Lobo-Guará
- Dom Tobias
- 1 de abr. de 2020
- 5 min de leitura
O nome é de lobo, mas o porte é de cão. O Lobo-guará é da família dos canídeos, como cães, lobos, raposas, coiotes e chacais, e tem bastante potencial para ser um bom amigo do homem. Com a peculiaridade de ser considerado o maior canídeo da América do Sul, o Guará destaca-se, também, pela sua importância para a conservação e manutenção da fauna e flora brasileira, e por ser um animal tranquilo e solitário. O lobo solitário O nome científico do Lobo-guará é Chrysocyon brachyurus, significa "cachorro dourado de rabo curto", do grego "chryso" (dourado) e "cyon" (cão), e do latim "brachy" (curto) e "urus" (cauda), enquanto Guará, nome que tem origem no tupi guarani, significa “vermelho”. As cores se misturam, deixando sua pelugem num tom dourado avermelhada. Já a parte interna de suas orelhas são brancas, e se movimentam como um radar atento aos sons e movimentos — conseguindo captar o mínimo ruído de suas presas. Pequenos roedores, aves terrestres e sapos dificilmente passam despercebidos pela sua audição e olfato. Curiosas são suas patas longas, parcialmente negras, como se usasse meias ou botas. Os pelos negros estão também no pescoço, que arrepia em situações de perigo e faz o lobo parecer ainda maior do que realmente é. Os filhotes possuem coloração diferente nos primeiros seis meses. Nascem bem negros com apenas a ponta da cauda branca. O que logo muda. Precoces, com apenas dez meses, atingem o porte de um adulto que poderá viver até os dezesseis anos. Vai o sol, vem o guará O Lobo-guará possui hábitos noturnos que iniciam-se no entardecer. Durante o dia, descansa, mas não costuma eleger um ponto particular, deitando-se sempre em lugares diferentes. Seus hábitos são solitários, gosta de andar e caçar sozinho. A não ser no período do acasalamento, quando procura companhia, o que acontece uma vez ao ano. Por esse motivo, apresentam baixas densidades por toda a sua distribuição, até porque, gostam de demarcar grandes territórios para sua desejável solidão. A relação das fêmeas com seus filhotes é de proteção. Assim como podemos observar nos cães, quando sente que algum perigo ameaça a cria, logo os esconde. Os filhotes mamam por cerca de dois meses e comem alimentos regurgitados pela mãe, como os pássaros. Depois, já estão quase prontos para a sua liberdade e para lutar pelo seu lugar. Nesse momento, já não há proteção da mãe, prevalece o instinto. Adultos da mesma família disputam o território, os que vencem expulsam os demais, que vão procurar outros campos de Cerrado. Agricultor do cerrado Além de ser um animal noturno, estudos indicam que ele também modifica seus picos de atividade com relação à umidade do ar e temperatura. Quando está frio, nublado ou depois de precipitações, é possível observá-los procurando comida ou patrulhando seu território, mesmo que ainda seja dia. A tarefa de vasculhar a região pode ser trabalhosa, pois seu habitat tende a ser bem extenso. A espécie é territorialista, e utiliza os odores da urina e das fezes, mais sensíveis ao olfato deles do que aos nossos, para evidenciar sua presença e demarcar seu território. Outra forma de sinalizar sua presença é por meio de um latido, prolongado e profundo, bem diferente do uivo típico dos lobos europeus e americanos. O Guará não só de adaptou ao bioma do cerrado, como o cerrado se adaptou a ele. Trata-se de um animal onívoro (os animais onívoros são aqueles que se alimentam de fonte vegetal e animal, ou seja, um onívoro apresenta uma dieta bem variada. A origem da palavra onívoro vem do latim e significa a união dos termos "omnis" e "vorus" que significa "aquele que come tudo") , que se alimenta de frutas e pequenos animais, como gambás, roedores, aves, cobras e lagartos, porém sua fruta preferida é conhecida como “lobeira”, uma fruta típica do cerrado. O fruto da lobeira faz bem ao animal, pois age como um vermífugo natural que impossibilita complicações renais. Mas a relação é de troca, pois, ao evacuar, o Lobo-guará promove a dispersão das sementes, muitas vezes a quilômetros de distância de onde o fruto foi apanhado. Por serem consumidas de forma inteira, as sementes passam pelo seu trato digestivo e saem prontas para germinar na terra. Isso confere ao lobo o papel de agricultor do cerrado. Sendo assim, preservar o Guará, significa preservar, também, a flora do cerrado. Entretanto, ele não vive só de frutas. Mesmo com as mudanças de seu habitat, o lobo não abandonou sua atividade de caça. Paciente, pode passar horas com o ouvido e nariz bem apurados até encontrar sua presa. Num primeiro sinal, fica imóvel até ter certeza da localização do animal. Ao avistá-lo, lança as enormes patas semi negras no ar e mergulha num bote. Quando não é certeiro, se esconde, mas não por medo. Sábio, possui outra estratégia: bater as patas no chão freneticamente para que as presas corram, e ele possa demonstrar sua agilidade dando o bote em plena fuga. Para caçar cobras é diferente, logo ao avistá-la se aproxima e bate as patas no chão diversas vezes, acertando-as, até que fique tontas e vulneráveis. Desconfiado, mas curioso O Lobo-guará é sim um ágil caçador, porém é vítima de um equívoco. Por carregar o título de lobo em seu nome, é tido como espécie ameaçadora e perigosa, enquanto é tímido, quase medroso, e inofensivo, preferindo manter distância de populações humanas. Além disso, muitos fazendeiros o acusam ser “ladrão de galinhas” e os agridem indiscriminadamente. Apesar de levarem a culpa pela morte das aves domésticas, outras espécies também podem ser responsáveis por tal delito, como furões, cachorros-do-mato, gatos do mato, lagartos, cobras e gaviões, dentre outros. De acordo com dados do “Programa para a Conservação do Lobo-Guará – Lobos da Canastra”, menos da metade dos ataques de aves na Serra da Canastra foram provocados pelo Lobo-guará. Porém, estudos avaliaram que os moradores acreditam que a espécie é ruim para a região. Mas o Guará não é um lobo mau. É verdade que ele não é lá de muitos amigos. É um pouco desconfiado e também bastante curioso. Mas isso não o torna ameaçador, apenas um solitário, uma vez que não anda em bandos como outros lobos americanos e europeus, de quem nem é parente. A espécie gosta de vagar pelo cerrado, e andar em trilhas que os levam a beira de um córrego, para matar a sede na água das nascentes. Além disso, são de grande ajuda para fazendeiros, pois se alimentam de roedores, que muitas vezes se tornam pragas que atacam plantações e sacas de grãos. Moradores de regiões mais isoladas do cerrado também deveriam agradecer. O Guará garante o controle de serpentes nas redondezas das casas. Isso, sem falar da sua relação direta na conservação da biodiversidade do cerrado. Fonte: revistasagarana.com.br/guara-o-lobo-solitario



Comments